Autopercepção do impacto na vida e na carreira dos médicos que atuaram na pandemia da covid-19

Abstract

A interação do comportamento humano com o ambiente contribuiu para o aparecimento de um novo vírus, o SARS-COV-2. Devido a dispersão desse vírus pelo mundo, a pandemia da COVID-19 se configurou como uma problemática de saúde pública, sendo necessária a construção de estratégias de enfrentamento. Diante desse cenário estressor, os médicos e outros profissionais de saúde tiveram que se expor ao vírus em prol do cuidado aos indivíduos infectados. Em consequência disso, a potencialização e o desenvolvimento de doenças psicológicas fizeram parte da realidade dos profissionais de saúde. Objetivo: O presente estudo busca avaliar a autopercepção do impacto na vida e na carreira dos médicos que atuaram na pandemia da COVID-19 durante a primeira onda. Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório com abordagem qualitativa. O instrumento de coleta de dados utilizado foram questionários eletrônicos contendo questões objetivas e subjetivas (fechadas e abertas) na plataforma SurveyMonkey® para 450 médicos atuantes nos serviços de atendimento da COVID-19 no estado da Bahia. No entanto, 225 médicos foram inclusos no estudo, sendo que 163 médicos responderam à questão subjetiva (aberta). As questões objetivas (fechadas) corresponderam aos dados sociodemográficos e a questão aberta e norteadora do estudo foi: “ter atuado durante a pandemia no atendimento a pacientes com COVID-19 teve algum impacto na sua carreira ou na sua vida?”. Resultados: Diante da análise das respostas à questão aberta, emergiram sete categorias temáticas, nomeadamente: sentimentos, projeção profissional, empatia/compassividade, aprendizado, ressignificação/resiliência, mudanças e espiritualidade. Além disso, as categorias sentimentos e mudanças foram contempladas por subcategorias, sendo que a categoria sentimentos apresentou as subcategorias sofrimento, estresse, ansiedade e medo, enquanto que a categoria mudanças apresentou as subcategorias afastamento social, na rotina e no autocuidado. Desta forma, essas categorias e subcategorias revelam o impacto na vida e carreira dos médicos. Conclusão: Pode-se avaliar que o sofrimento, o estresse, a ansiedade e o medo foram sentimentos precipitados e potencializados na pandemia e que mudanças na rotina e no autocuidado foram impostas, além da necessidade do afastamento social. Como forma de enfrentar esse cenário, os profissionais tiveram que, na medida do possível, serem resilientes e adotar a empatia e a espiritualidade na tentativa de lidar com as adversidades. Além disso, alguns médicos demonstraram o aprendizado construído diante do desconhecido, constituindo, também, um cenário importante para a projeção profissional.