Epidemiologia das emergências psiquiátricas no contexto da pandemia de covid-19: uma revisão sistemática

Abstract

Introdução: Com o início de pandemia de SARS-CoV-2, a maioria dos estabelecimentos de saúde mental primários e secundários foram obrigados a fechar ou restringir temporariamente as consultas. Ao mesmo tempo, novos estressores foram inseridos no cotidiano a partir da instalação das medidas restritivas e do aumento no número de casos de COVID-19. Dessa forma, criou-se um desequilíbrio grave entre os fatores de risco e de proteção relacionados ao adoecimento mental, o que contribui para o surgimento e piora de quadros psiquiátricos a curto e longo prazo. Objetivo: Descrever o perfil clínico e sociodemográfico dos pacientes com quadros de emergências psiquiátricas atendidos durante a pandemia de COVID-19 em serviços de emergência de hospitais gerais ou de estabelecimentos especializados em psiquiatria. Métodos: A estratégia de busca foi aplicada nas bases de dados eletrônicas PubMed, LILACS, SciElo, PsycINFO e Cochrane Library. Foram incluídos apenas estudos observacionais, publicados a partir de 2019, redigidos em inglês, espanhol ou português, cuja amostra foi atendida durante a pandemia e classificada de acordo com as emergências psiquiátricas apresentadas. Foram excluídos estudos que restringiram sua amostra para algum transtorno ou emergência, para crianças, idosos ou algum sexo específico e estudos que apenas selecionaram participantes já diagnosticados com algum transtorno psiquiátrico. Resultados: Dos 497 estudos encontrados na pesquisa, 20 cumpriam os critérios de elegibilidade, sendo 13 conduzidos na Europa, 3 na América do Norte, 2 na Ásia e 2 na Oceania. Na maioria dos estudos, a proporção masculino-feminino é próxima de 1:1, a média de idade está entre 29,9 e 54,5 anos, e a maioria dos pacientes está solteira e sem emprego. O comportamento suicida e a automutilação foram as apresentações mais frequentes, ao passo que a prevalência dos diagnósticos após atendimento foi variada entre os estudos, com destaque para transtornos psicóticos e transtornos por uso de substância. Conclusão: não houve diferença em relação ao sexo, e a maioria da população estava na faixa de idade economicamente ativa, solteira e sem emprego. Mais estudos de prevalência de atendimentos a pacientes com emergências psiquiátricas são necessários, com maior padronização na coleta dos dados, principalmente nos países latino-americanos e africanos, a fim de se identificar e atender as necessidades relacionadas a essas ocorrências.